Outro medo da viagem de avião

Um dos meios de transportes mais seguros do mundo, sem dúvida e conforme as estatísticas de autoridades especialistas em transportes, é o avião. Embora tenha ocorrido, há pouco tempo, um lastimável acidente aéreo em que morreram mais de uma centena de pessoas; acidente oriundo de diversos erros dos inúmeros agentes envolvidos com o fato em voga. No entanto, com ou sem acidentes aéreos em nossas memórias, o medo de voar nesses aparelhos povoa nossas angústias; diversas pessoas têm o medo de avião, inclusive aquelas que freqüentemente utilizam esse meio de transporte. Não cabe explicar psicologicamente esse medo, e nem mesmo invocá-lo em particular nesse texto, mas junto a ele se pode destacar outro receio, que se torna evidente em situações de desídia de algumas empresas aéreas, qual seja: o medo de perder as bagagens – os pertences.
Não é um simples de medo de perder coisas e nem mesmo é comparável com o medo de perder a vida, no entanto, esse medo tem uma determinada acentuação quando em vôos domésticos ou internacionais somos obrigados a despachar as bagagens (muitas vezes com objetos, que, se destruídos ou perdidos, já não teremos a possibilidade de os recuperar) para o porão do avião. E não são poucos os casos de extravio e danos em bagagens, cito meu exemplo: em um vôo doméstico – fora do Brasil – tive uma de minhas malas queimada, noutro vôo, agora internacional, tive malas encharcadas com água e, por consequência, livros danificados. Nesses últimos dias, uma de minhas malas teve o mecanismo de segurança destruído, por conseguinte ela terá que ser substituída por outra. Embora ocorra tudo isso, as empresas aéreas te forçam (caso da mala queimada) a readquirir os pertences para ser ressarcido, fato que para muitos passageiros se torna inviável economicamente. Além do aspecto econômico, mas principalmente, o aspecto do devido respeito aos viajantes, que dependem de sua bagagem para passar férias, ir aos congressos, fazer negócios e estudar, e que pagam elevados valores para utilizar o transporte aéreo deve, mas não está sendo, considerado pelos responsáveis.
Esse medo é oriundo da quantidade de eventos desse tipo, mas também com o descaso de algumas empresas (destaca-se que a estrutura de determinados aeroportos também são responsáveis) com os pertences dos passageiros; é importante frisar que os pertences não são mais importantes que as pessoas que os carregam, mas o mínimo de respeito e consideração pelos bens dos passageiros, até mesmo devido à importância de sua utilização em seu destino final. Ora, se as pessoas trazem consigo alguns bens, que apresentam determinado limite de peso, é devido ao fato de que aqueles bens serão de muita utilidade naquela específica viagem. Um outro aspecto do descaso reside no tratamento dado aos incidentes com as bagagens, ou seja, ao invés de facilitar o ressarcimento das vítimas, os responsáveis dificultam-no ao máximo, com a desculpa de evitar as ações de possíveis aproveitadores.
Correm-se diversos riscos em relação ao transporte de bagagens, riscos normais à própria natureza do transporte, o problema não está nesses riscos, mas na maneira com que algumas empresas, e seus funcionários, tratam o passageiro quando tais adversidades ocorrem, e, também, está na elevada frequência como esse tipo de sinistro se repete. Para além disso, a indenização estipulada, muitas vezes, não cobre a metade do valor dos objetos que foram perdidos ou destruídos. Seja como for, se algumas empresas aéreas tivessem um pouco mais de cuidado com os pertences, e respeito com os próprios passageiros, a viagem de avião seria menos angustiante nesse aspecto, o passageiro não chegaria ao seu destino com a expectativa de ficar sem suas malas; por último, há de se destacar, novamente, que muito dessas ocorrências são oriundas da desorganização estrutural dos aeroportos.
Guilherme Camargo Massaú