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quinta-feira, setembro 07, 2006

Quem deve não teme!

Notam-se determinadas inversões de elementos ético-políticos na atual conjuntura societária mundial. Em relação ao cosmos brasileiro essas inversões são notavelmente alarmantes; são de tal maneira evidentes que se pode alterar o seguinte brocardo (sempre dito naqueles momentos de suspeita-investigação ou de julgamento): quem não deve não teme. Retira-se, dessa sentença, a negação do primeiro verbo que, por imediata conseqüência, altera o sentido de justiça para uma adjetivação pejorativa; ou seja, imagina-se que quem deve deveria temer as conseqüências desse dever envolvido numa decorrente responsabilidade de conviver em sociedade. Devido aos fatos correntes, conjuntamente com uma “deterioração” ético-política, pode-se atribuir novo sentido a essa frase.
Os fatos que ocorreram e ocorrem nas principais instituições do Estado brasileiro, atualmente, são o maior exemplo da alteração do significado de dever, para com milhares de pessoas, cidadãos. Leva-se em consideração que os brocardos contêm um conhecimento implícito, uma “verdade” que tende a se verificar nos fatos cotidianos; por isso, e apoiado em fatos coditianos, cada vez mais freqüentes (infelizmente prejudiciais à nação), referentes à corrupção no setor público conjugado com a passividade da parte íntegra do aparelho público e a inércia dos cidadãos, o dito brocardo sofre abalos profundos em sua estrutura explanadora da “veracidade” e da faticidade. Então, para coadunar o brocardo, e seu sentido, com a questão de fato, sua composição deve ser alterada, na tentativa de refletir uma realidade e não iludir a “verdade”. Portanto, quem não deve não teme, pode ser alterado para: quem deve não teme; essa proposta de modificação tende a deixar as coisas mais claras, por pior que elas sejam, o reflexo volta-se para os acontecimentos que compõem uma realidade corrente.
Mas se essa modificação consegue abranger um novo real sentido da atualidade, então a via da seguinte indagação se abre: quem não deve teme. De uma certa forma, esse anverso da “moeda” se faz pertinente, se for convocada a dificuldade de se provar inocência e de conseguir cumprir todas as exigências impostas por um Estado opressor no aspecto de controle social. Os encargos, de maneira geral, que recaem sobre o cidadão, pouco correspondem aos benefícios cedidos pelo próprio Estado. Para além dessa problemática retributiva o inchamento do poder público, devido a estruturas (pouco claras) facilitadoras de corrupção sugere a inversão de valores ético-políticos; pois impera um ambiente corruptivo, aqueles elementos não corrompidos, e, por isso, esses têm maiores dificuldades em superar a força exercida, dominantemente, pelos corruptores.
Assim, os fatores existentes fornecem o viés das seguintes proposições: quem deve não teme e quem não deve teme. Para uma melhor compreensão desses aspectos, principalmente em relação à primeira proposição, basta prestar atenção nas notícias veiculadas nos meios de comunicação e fazer o exercício de encaixar as notícias no sentido do brocardo. A segunda proposição, como reflexo da primeira, pode ser verificada, também através dos noticiários, mas, principalmente, na própria realidade de se adequar as exigências dos aparelhos do estado e, ainda, de sobreviver – de maneira digna – no ambiente social brasileiro, sempre tendo como paradigma, a não ser seguido, os elementos corruptos. Embora, existam inúmeras questões a serem consideradas, de forma geral, a modificação do brocardo implica a exemplificação da conjuntura ético-política (também, jurídica-econômica-social) da coletividade contemporânea (brasileira).

Autor: Guilherme Camargo Massaú. Texto publicado no Jornal Diário Popular, dia 6 de setembro de 2006.