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segunda-feira, janeiro 08, 2007

Uma curiosidade da vida (O Saddam morreu?)

Esse pequeno texto não tem o condão de iniciar nenhuma problemática em torno da morte do ditador Iraquiano Saddam Hussein, mas contar uma passagem curiosa, proporcionada pelo acaso da vida. Enquanto estudante da Universidade de Coimbra, eu tive a possibilidade de morar durante quatro meses na cidade alemã de Leipzig e estudar na Universidade; ocorreu lá um fato que marcará o resto da minha vida, pois significa um encontro de culturas e, ao mesmo tempo, remete ao fato da prisão do ditador Iraquiano, ou melhor, ocorreu um enriquecimento da troca de informações culturais distintas.
Foi na entrada dum prédio, que hoje deve ter sido demolido para dar lugar a outra estrutura, que tudo aconteceu. Como um estrangeiro querendo aprender a língua, procurei falar com o máximo de pessoas possíveis. Nesses momentos encontrei vários estrangeiros que estudavam e/ou trabalham por lá; foi quando conheci um Iraquiano, que mora há mais de vinte anos na Alemanha, ele trabalhava, justamente, no átrio da Universidade, num quiosque vendendo lanches. Encontrei um amigo que se dispunha a conversar e a ensinar a o idioma, assim passei a freqüentar o local quase que diariamente. Observava que outras pessoas se aproximavam desse Iraquiano para conversar, pois ele conhecia muitos por ali.
Em um determinado dia, cheguei na Universidade e fui direto para o quiosque conversar com amigo Iraquiano, que estava a ler um jornal de sua pátria. Aquele jornal me chamou atenção por dois motivos: o primeiro foi por causa do desenho das palavras, ou seja, a grafia própria daquela região; em segundo lugar, a foto estampada na capa do ditador iraquiano, logo depois de sua captura. Ao ver aquela imagem apontei para a foto e disse: Saddam; o iraquiano virou e disse-me: este aqui não é o Saddam! Tinha por mim que aquela imagem, divulgada no mundo inteiro, fosse do ditador, mas segundo ele, aquele seria um sósia; ainda segundo ele identificar o ditador é muito complexo, pois a imagem dele era vista em diversos pontos do Iraque em diminutos espaços de tempo. Isso dá ensejo a existência de difusores das feições e, além do mais, põe em cheque a real captura do ditador e sua execução.
Para além das questões políticas que estão contidas neste fato, o relevante está no momento em que um iraquiano, que saiu de sua pátria devido ao regime de Saddam, falou diretamente ao brasileiro, estudante, que vê o conflito pelas notícias televisivas, que o ditador preso, apresentado ao mundo, não é o legítimo. Senti-me como parte da história mundial e detentor de uma perspectiva privilegiada da situação, uma informação que insere uma visão-de-mundo privilegiada com um interlocutor privilegiado. Nessas condições não importa a veracidade ou não da notícia, importa, sim, quem a deu e as circunstâncias da situação vivenciada.
Autor: Guilherme Camargo Massaú